domingo, 29 de novembro de 2009

Reflexões de um sábado incomum.



A vida veio me sacudir hoje de manhã. Acordei cedo e fui tomar meu café na varanda, como tem sido nos últimos sábados. Sentei na cadeirinha meio desconfortável e me deliciei com  aquele amargo-quentinho de todos os dias; pra acompanhar, duas torradas com geléia de morango, tudo normal demais. Termino de comer mas continuo ali olhando aquele sábado que amanheceu cinza, quieto, mudo. Quando estava para ir para a cozinha lavar os pratos, ouço gritos vindos do apartamento  de baixo, 13º andar. Levanto e olho para baixo. Vejo minha vizinha pendurada, segurando-se apenas na proteção de tela de sua varanda e da varanda do apartamento abaixo do dela. Do 12º andar,ouço outros vizinhos implorando para que ela volte à razão. Deixo a xícara cair, parecia que o barulho da porcelana quebrando havia se juntado ao barulho da queda do corpo da minha vizinha de baixo. Levanto-me abruptamente e olho para baixo mais uma vez. não vou descrever o que vi, mas deixei os pedaços da porcelana da xícara caírem no chão mais uma vez. Não sei quanto tempo passei observando aquela moça no chão. As pessoas se aglomeravam em torno do meu prédio como formigas em torno de um torrão de açúcar, a chegada da polícia e dos bombeiros só fez chamar mais atenção das formigas, que pareciam se multiplicar. Em respeito, os moradores daqui do  prédio cobriram o corpo. Depois os profissionais a levaram.


Tudo voltou à normalidade.


Menos na minha cabeça.


Não pensei nos motivos que a fizeram pular, nem em nada disso que as pessoas geralmente pensam ao se deparar com um suicídio. Pensei em quão perto essa moça estava de mim, e que enquanto eu tomava meu café a apenas uns 80 cm acima, ela cortava a rede de proteção da sua varanda e dava um passo pra acabar com algo que a atormentava, viver. Tudo tão perto, e eu nem imaginava. Essas duas últimas semanas foram bem complicadas pra mim em relação a essa coisa de morte. E eu venho pensando muito a respeito de viver e de como fazer isso. Perder alguém querido nos deixa pensativos, tristes. Mas essa moça que eu mal conhecia mexeu mais comigo do que a morte do meu tio há duas semanas atrás, talvez porque eu tenha juntado os dois sentimentos, ou talvez porque eu a tenha visto morrer, ou talvez porque dias antes eu havia me visto naquela situação em que ela estava, não sei. Só sei que isso me fez ter novas forças dentro de mim e me fez desistir de pensamentos que vez ou outra me vinham à mente. Acho que posso agradecer a ela por abrir meus olhos e agradecer à vida por estar viva. Um segundo é o bastante para que tudo o que foi construído em anos de luta se perca, e nós perdemos muitos segundos com coisas sem importância, tolas, vãs. Negamos amores, escondemos sentimentos, brigamos por besteira, faltamos compromissos e nos julgamos muita coisa. 


Esses acontecimentos me fizeram repensar minha vida inteira, refletir, sei lá. Parece clichê ou idiota, mas é verdade. E eu precisava expor isso de alguma maneira.
Está feito.

2 comentários:

  1. num sei o que teria feito, ou não feito. provavelmente a mesma reação que a sua. mas teria chorado e ter pensado como você dever pensado, que não teria e não coragem de fazer o que ela fez. isso abriria os meus olhos, e me fez pensar na musica da titãs "epitáfio". estou comovida pacas e não queria ter visto o q você viu. mas pro um lado isso abriria os meus olhos, algo q preciso muito!! fico em silencio agora!

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  2. Cara to pasmo!

    "Pensando no nada eu pensei no tudo, descobri que um segundo é o maior tempo do mundo"

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