De antes.

Escrevi isso há algum tempo, em um guardanapo de um clássico bar universitário, o Cavanhaque. Aquele foi um breve momento de epifania. Aconteceu no dia que surgiu minha tradição das quartas-feiras: ir geralmente sozinha ao cavanhaque, pedir uma ficha e colocá-la na juicebox, depois tomar uma cerveja enquanto as duas músicas escolhidas por mim tocam a alto som no bar. É um momento bom na semana, sempre acontece algo que eu considero no mínimo exótico, pretendo contá-los aqui um dia.
Vou deixar de lenga lenga. O escrito:

Não dá mais pra voltar no tempo e fazer a roda da vida voltar, ainda que eu mexa nos ponteiros do relógio. Ficar pensando no talvez é se consumir.

Posto que isso já me ocorra, estou presa temporariamente no “mas e se eu tivesse dito/feito/pensado/agido/parado...”. Tanta nostalgia...

A embriaguez me adormece (3 garrafas de cerveja no cavanhaque antes da aula de política), e com o corpo dormente minha alma finge não sentir. A música se apodera de meus ouvidos, e mesmo sem som algum ouço a voz que me traz à razão; eu fujo, mas ela mostra todos os erros passados, e a dor do arrepender fica forte e se dilui em mim. É difícil se assumir falho, estou nua diante destas palavras que me tomam sem pudor algum. Meu sangue pulsa quente no embalo da saudade, da vontade que passou, que voltou, se apoderou e sumiu, e tornou, e partiu (até quando?). Dá lembrança do que éramos nós, da chuva fina que caía sempre que éramos um, das gotas pesadas que jorravam encharcando o cimento, das ruas desertas (minhas ruas, tuas ruas, nossos labirintos), da tua voz conduzindo o meu sorriso, da tua máscara, do meu não enxergar. Na minha mente lembro do papel que por vezes se confundia com o ator, e que eu, que nunca admiti e nem ao menos percebi, amava os dois.