Meio dia. Ela ia à praia de manhã cedo, mas pra variar chegou muito tarde na noite anterior e não conseguiu acordar. Pensou em pedir uma pizza, contou o dinheiro, não seria suficiente para a taxa da entrega e para uma Coca. Então desceu as escadas e foi à padaria; comprou doritos, coca e cigarros. Um ótimo almoço pra um domingo de ressaca. No sábado foi à uma festa, viu o sol nascer fumando um baseado na beira-mar e pegou um táxi pra casa sozinha, por mais que um rapaz com quem havia ficado na noite insistisse para trazê-la em casa; andava evitando maiores sentimentos e maiores aproximações. Voltou pra casa, ficou lendo na rede.
Três da tarde, ela está sozinha. Um café, um livro, 5 filmes da locadora mais próxima, agora só restava meia carteira de cigarros; o telefone não tocava, nada de novo acontecia. Nada de milagres hoje. Ela evitava maiores sentimentos, mas anseava por um telefonema, uma carta, quatro letras de amor. Mas amor nenhum é previsível, muito menos pontual. Amor não chega com hora marcada, muito menos quando que você acha que mais precisa (raras são as exceções). O amor pode vir e encontrar você sem disposição para relacionamentos sérios. Ele vem e você nem se dá conta, às vezes só depois que ele já foi, às vezes nunca. Ele pode chegar depois de uma decepção, e encontrar você desacreditado, triste, com olheiras e cara de choro, com medo de se entregar. Ele vem e você se dá conta, mas está desconfiado demais para acreditar nisso, e ele acaba indo embora. Perdida no meio dos pensamentos fumava um cigarro atrás do outro e via os poucos carros passarem na avenida, -"as ruas aos domingos sempre ficam mais vazias" falou enquanto acendia o isqueiro. Há tempos pensa em parar de fumar, o cigarro está lhe fazendo um mal enorme, mas vem sendo difícil. Prometeu a si mesma fumar apenas nos fins de semana; mas ela nunca é fiel a si mesma.
O telefone toca, ela corre. É uma amiga perguntando se ela está bem e querendo saber se, de fato, o "bofe " com quem ela estava ontem foi para sua casa. Elas conversam durante uns 10 minutos e desligam. É preciso ir na locadora devolver os lançamentos. Filmes de lançamento nas locadoras são um grande saco, sempre é preciso devolvê-los antes dos outros. Não estava diposta a se arrumar. Pensou em ir bonita, afinal, poderia encontrar o amor de sua vida na locadora, ou na fila do banco, ou do supermercado. Mas em seguida pensou que o amor nunca aparece na hora certa, quando você está bem vestido por exemplo. Então colocou uma camiseta e saiu de moletom, havaianas e cabelo preso.
Deu umas voltas pela locadora, fingiu olhar alguns filmes, comprou uma lasanha congelada na padaria para o jantar; passou na banca de revistas folheou o jornal, leu o horóscopo, voltou pra casa. Pelas notícias nada de amor hoje.
Sete da noite, ela está sozinha. Liga o notebook e fica de papo no msn comendo a lasanha. O gato entra no quarto, deita no tapete e fica encarando-a por um certo tempo, depois dorme. Ela deveria fazer o mesmo, a internet não tem graça, a conversa das pessoas não a interessa, não agora. Mais uma vez ela desiste do computador e vai ver um filme, sua fuga mais comum. Acreditava que suas histórias poderiam sim ser um filme, daqueles que já vem até com trilha sonora perfeitamente encaixada.
Onze e quarenta e sete da noite, o filme acabou e ela precisa dormir, tem aula às oito da manhã às segundas e sua carona chega às sete e um tanto. Desliga a tv, depois o abajour, tenta desligar a mente, mas essa não desliga nunca.
Típico dia de domingo.
'tenta desligar a mente, mas essa não desliga nunca.'
ResponderExcluirnem quando eu durmo.
quando tu aprender a desligar a mente, me ensina
ResponderExcluirEu desligo a mente andando por aí, sem rumo, sem eira nem beira, sem dono, nem eu mesmo sendo dono de mim mesmo. Sou de tudo? Sei lá. Me entrego, e deixo o mundo me levar. Me entrego, e deixo o mundo me relaxar....
ResponderExcluirO sol do domingo também brilha diferente, já notou?
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