Hoje eu abri a janela e senti um vento frio que invadiu tudo e saiu cortando devagar.
Senti o quão vazia estava a sala de visitas...
Os móveis estavam empoeirados e a TV nem funcionava mais; jornais e revistas velhas se empilhavam à um canto e livros acumulavam mofo. Sentei no tapete que fica ao centro e fiquei observando tudo, prestando atenção em cada detalhe que eu deixei escapar durante todo esse tempo, redescobrindo tudo o que existia (e existe) ali.
Um passarinho entrou pela janela e ficou rodopiando ao redor do lustre. Meu primeiro visitante, após meses, talvez anos ou décadas, nem sei. Só sei que eu me senti envergonhada de recepcionar alguém assim, o lugar estava um lixo. Não havia um lugar livre pra se sentar, e a conversa seria constantemente interrompida por espirros devido à poeira e ao mofo impregnados em cada centrímetro do ambiente. Decidi limpar tudo.
No outro dia acordei indisposta, mas o passarinho veio novamente e me tirou da cama, me fez levantar. Quando dei por mim lá estava eu na sala, pondo tudo de volta nos conformes. A partir daí, diariamente o passarinho vinha, rodopiava o lustre e ia embora, enquanto eu continuava a árdua tarefa de preparar aquele lugar para novos visitantes. Certo dia o passarinho não apareceu. Esperei durante toda a tarde, então pensei: "vou esperá-lo amanhã". E não deu outra, logo de manhã eu estava debruçada na janela por onde ele entrava; nada. E assim se passaram mais dias, nem sei quantos, mas foi o suficiente para a poeira começar a se acumular mais uma vez, estava acontecendo de novo...
...Acordei de sopetão, ouvi um som vindo da minha sala. Desci as escadas esbaforida, "é ele, é ele, ele voltou, ele voltou pra cantar pra mim!" Quando cheguei à sala não havia ninguém, só a lua invadia pelas janelas semi-abertas e iluminava de prata os meus pés. Abri a janela e deixei a luz entrar. O céu estava lindo, parecia ter vida, coisa que há tempos me faltava...
Abri as portas; deixei a vida entrar.
'graças a deus um passarinho, vem me acompanhar cantando bem baixinho. e eu já não me sinto só, tão só tão só, no universo ao meu redor'
ResponderExcluirvem cantar aqui também, passarinho.
pede pra essa vida vir me visitar também.
ResponderExcluirvou deixar abertas, as janelas