quinta-feira, 28 de maio de 2009

Canto de Ossanha (de Barros).


Acho que aconteceu assim pra que ela aprendesse o valor das coisas, o valor do que era amar, o valor de uma lágrima, o valor que ela tinha para si própria. Talvez tenha acontecido assim para que ela enxergasse que às vezes nossos olhos nos cegam e nem sempre o que achamos que é o melhor para nós, nos faz realmente bem, nem sempre o que nós achamos que queremos, é realmente nossa vontade.

E foi assim, com chuva e tudo (que não pode faltar o cenário de cinema nesse filme de duas cabeças loucas), que a coisa terminou. Ela me disse que não vai planejar nada, mas que não quer mais, vai se deixar levar, deixar o vento bater e fluir. Falou também que sabe que muitas outras vezes ela falou pra mim enfurecida e entre lágrimas que não queria mais, mas dessa vez foi assim, com uma calma profunda e uma sinceridade assustadora"ah, eu não quero mais"e eu, pela primeira vez, acreditei.

Ela falou também que não se arrepende, que viveria tudo outra vez com choro bandido, beijo roubado e tudo. Como ela saberia o que é o amor se nunca em sua vida houvesse vivido um? Relacionamentos teve aos montes, nenhum que realmente a tivesse tocado, a tivesse mexido, a tivesse feito comer o juízo e rasgar a fronha do travesseiro. Mas esse não, esse teve todas as fases. Ela negou, ela brincou, ela usou, abusou, foi vítima, se fez de vítima, sorriu, chorou, partiu, voltou, cantarolou no chuveiro, dormiu juntinho só por dormir, ouviu uma discografia completa dos Strokes, dançou samba, fez um samba, ganhou um samba; viveu vários. Também sentiu raiva, fez raiva, deu tiro no escuro, gritou sozinha do alto do 15º andar, jogou tudo no mar e resgatou depois pra guardar numa gaveta de lembranças; hoje.

E ela me chamou aqui pra juntar tudo com ela que ela tem memória fraca. E comigo ela lembrou de cada cena, cada som, cada sim, cada detalhe do corpo que seu tato conhece minuciosamente bem, cada palavra, cada sopro e cada nota. Me chamou aqui pra fazer um balanço e pra ver quem ganhou, quem perdeu, e acabou aprendendo que ninguém ganha e ninguém perde. Que essas coisas de gostar não são um jogo de tabuleiro onde jogadas previamente arquitetadas dão resultados anteriormente previstos. As pessoas são inconstantes, ela é inconstante. Os fatores externos influenciam muito, mesmo que você não se ligue muito na opinião alheia, e os fatores internos influenciam ainda mais, principalmente se você aprisiona eles dentro de si e fica martelando aquilo somente na sua cabeça. Terminou que ela viu que ela aprendeu muito, mesmo que seus olhos ainda estejam um pouco inchados por conta do choro do dia anterior, e seu semblante ainda esteja um tanto quanto entristecido. Ela viu que ela aprendeu muito a respeito dela mesma, percebeu que ela não é uma menina de vidro, muito menos uma mulher de mármore, ela é feita de carne e osso e sangue corre em suas veias. Viu que seu coração bate, ainda que doído, que o seu coração bate, ainda que feliz, e que ele continuará batendo, até chegar sua hora de parar.

Vinícius sempre esteve certo, "o amor só é bom se doer". Mas agora, agora é chegada a hora de ir viver.

P.S.: ela mandou dizer que mesmo contrário à tudo, ainda sente teu cheiro nas roupas dela.

5 comentários:

  1. acho que não preciso falar mais nada, preciso?
    amo você, amo.

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  2. A cada dia vivendo nossas personagens... A vida é pura poesia, mesmo.

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  3. sabe o que me interessa, é SE VOCÊ, SOMENTE VOCÊ, gostou... os comentario, fica pra depois, e depois com o tempo você percebe que... foi bom enquanto durou!

    amo!

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  4. tu arrasa meu projeto de vida.
    vou te transformar num filme bruna.

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  5. "O último a sair, por favor, desligar as luzes e fechar a porta."

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